segunda-feira, 26 de julho de 2010

Quinta Dose de Pílulas do Livro...

Lisboa é a maior cidade de Portugal e possuí uma área metropolitana que ocupa cerca de 2.870 km2 com cerca de 2,9 milhões de habitantes.
Os seus bairros típicos, com as suas ruelas estreitas e castiças, são ímpares.
Morava num dos bairros mais típicos de Lisboa – a Graça – junto ao Castelo de São Jorge e do Miradouro de Santa Luzia – recordo-me das nossas finais de tardes de outono, um friozinho, acompanhado de uma bica (como se chama um café expresso em Lisboa) e de uns pasteis de Belém.

O Outono faz-me lembrar (não sei porquê) Outubro, talvez seja porque é quando começa o frio – e Outubro lembra-me “Amália Rodrigues” que morreu em Outubro de mil novecentos e noventa e nove.
Eu sou um apaixonado por “Amália Rodrigues” que representa o Portugal – Português.
“Amália Rodrigues” era uma diva que tinha o sentido do trágico e elevou o canto à condição de poesia, ela soube cruzar o fado com a mais elevada arte poética, trouxe a poesia erudita para o fado, remetia o seu gênio a uma condição natural – a intuição - e foi à intuição que trouxe para o fado poetas que não eram do fado, era maravilhoso para “Amália”, o fado se confundir com um estado de alma, carregado de emoções e que leva a um destino...!
Há fado na sua própria vida, “uma estranha forma de vida”.

E o meu destino. O que seria?...
Estaria o meu fado traçado?
Dava comigo, às sete e meia da manhã, naquele trânsito caótico da cidade das outras eras - Lisboa – falando sozinho e xingando o indivíduo que estava na viatura ao lado da minha, mas que, por portas e travessas, tinha tido a esperteza saloia de avançar uns metros a mais, naquele caos, que eu gostaria que fosse ordem.
Ordem/caos ou vice-versa. Que confusão sem solução aparente...
Isto se repetia todos os dias durante meses.
O pior da alma humana, é o sentimento de desilusão e ineficácia, quando achamos que temos a possibilidade de sermos um pouco felizes, mas infelizmente, não o somos.
Por vezes, existem condicionalismos que apressam/limitam as nossas atitudes as nossas tomadas de decisões.
Sem saber, Carla foi sem dúvida a passagem para a outra margem da ponte.
Cheguei, eram umas vinte e trinta da noite, Carla estava assistindo a novela (acho que brasileira), sentada no sofá da sala, com o aquecedor ligado e de coberta sobre as pernas ligeiramente dobradas, tirei o casaco e coloquei-o á entrada (no hall), dirigi-me ao toillet que ficava em frente á porta de entrada e ouvi uma boa noite amor... Retorqui... Boa noite querida, como foi o teu dia – indagou Carla – normal querida, (enquanto lavava as mãos, pensava seriamente de que forma abordaria o assunto) lembrei-me instantaneamente de convidá-la para irmos jantar fora, talvez fosse mais fácil, para mim – Carlinha vamos comer algo em algum restaurante, Rick (como ela me chamava) eu fiz jantar para nós, além disso, não achas que está um pouco de frio para sairmos! Fiquei sem resposta, mas ao mesmo tempo satisfeito, pela tentativa óbvia de Carla tentar agradar-me com o seu repasto, até porque sinceramente não me apetecia sair muito menos com o frio que estava – claro, claro, ficamos jantamos hoje em casa na boa. Carla levantou-se do sofá da sala e dirigiu-se ao meu encontro – estava saindo do toillet, quando ela me abraçou –
Carlinha precisamos conversar – vamos para Salvador...
Salvador! Porquê Ricardo, não entendi de férias?... O rosto mudou, os olhos ficaram parados, a olhar para mim, á espera de uma resposta.
Olhei, tirei o terno e a gravata e dirigi-me para o quarto (anteriormente e já por algumas vezes, eu tinha falado levemente sobre o assunto de irmos viver para Salvador) não de férias, mas definitivamente, acho que é o nosso destino, algo me diz...
A decisão estava tomada, a compreensão foi importante para a minha vinda definitiva para terras da Bahia.

Embarcamos em finais de Julho de dois mil e três, com destino – rumo a Salvador via São Paulo.
Tinha conseguido uma licença sem vencimento durante dois anos e com alguma dificuldade, até pela rapidez de todo o processo, vender o meu apartamento, por um preço bastante agradável, o que me dava à partida, condições e tempo suficiente, para analisar propostas de negócios, bem como formas de investimento possíveis.
Todo o resto que eu trazia, eram problemas emocionais e familiares que até hoje, tenho ainda alguma dificuldade em resolver.
A minha família, nunca aceitou bem a idéia, que eu tinha em mente, mas de uma forma ou de outra, foram lentamente dizendo sim – sem nunca dizerem amen.

Gerir, isso tudo, foi no início muito complicado e deveras problemático, até pelas saudades inerentes a todo o processo... Situações á parte, até que sou um felizardo, pelo fato de imensas vezes durante o ano, quando não me é possível ir a Portugal, alguém de família ou amigos, vem visitar-me e abraçar-me, o que me dá certo conforto e confiança.
Até porque existe um meio de transporte, bastante rápido que é o avião e que só são oito horas sentadas, sem quase se poder mover, bastante apertado – porque a distância da poltrona da frente, não nos permite sequer esticar as nossas pernas, quanto mais viajar confortável...

Amar e ser amado – eis a questão...

Chegamos finalmente a Salvador, deixamos as malas num Apart-hotel e seguimos viagem para Arraial de Ajuda – perto de Porto Seguro.

Arraial de Ajuda – é um vilarejo super aconchegante – rodeado de excelentes praias – e lugares ainda calmos e tranqüilos, pode-se desfrutar de dias e dias sem fim de sol e águas quentes – Trancoso – Praia do Espelho.
No início, ficamos hospedados numa pousada perto da Villa, o conforto não era lá grande coisa, então resolvemos procurar, algo de diferente, que nos desse mais tranqüilidade e sossego.
Depois de muito procurarmos, ainda demoramos uns três dias, presumo eu, batemos na porta certa. Angélica e Richard – que casal maravilhoso – tornamo-nos amigos ao primeiro contacto.
Eles são alemães que um dia, há Vinte anos, vieram de férias para Arraial da Ajuda – cansados da vida na Europa resolveram no ano seguinte, vender tudo e comprar um terreno junto ao mar e construíram a sua linda casa – com mais três casas, bastante aconchegantes, que alugam só para os amigos que vêm de fora. Nós não éramos conhecidos muito menos amigos... Mas a empatia aconteceu.
Angélica era estilista de moda – alta costura européia – Milão, Roma, Paris, Berlin – amiga de Karl Lagarfeld – que pessoa fantástica, extrovertida, estilosa, sempre bem vestida e super maquiada e pintada – chiquérrima – até quando colocava biquíni se tornava chique.
Richard é professor catedrático de Física Nuclear – vai uma vez por mês para o Recife, corrigir as teses de Doutoramento, daqueles que tentam fazer da física o seu modus vivendi.

Que casal, que pessoas de uma personalidade e simpatia extraordinária.
Ficamos algum tempo, bastante tempo hospedados em casa deles...
Eles adoravam receber os amigos dentro de casa... O mobiliário de sua casa era todo em acrílico – misturado com imensas antiguidades – aparadores –arte sacra - relógios antiqüíssimos – de um gosto aprumado e soberano.
A sua sala de jantar era bastante ampla e aproveitávamos os jantares que nos eram oferecidos, com muita prosa salutar e agradável.
Estávamos em lua de mel, todos os momentos se tornavam únicos e aprazíveis, tudo para mim era novidade, as praias lindíssimas, o convívio com as pessoas, o simples acordar e tomar o café matinal junto ao mar, ouvindo o som das pequenas ondas junto á areia.
O nosso pequeno lar ficava juntinho á praia... Era bom de mais...
Angélica, não bebia bebidas alcoólicas, mas Richard, de quando em vez acompanhava-me, num vinho branco bem gelado (de preferência Português) ou então num belo e borbulhoso espumante...
Estes eram os nossos finais de tarde, depois de longos passeios (tínhamos alugado um carro) pelas praias ao redor – acho que percorremos todas as praias que foram sugeridas, num redor de cinqüenta kilometros.

Ás vezes atravessávamos de barco e íamos até Porto Seguro – conhecer um pouco da História – da Bahia e do Brasil, indagando quem tinha sido fulano ou beltrano – qual o seu papel na construção deste Brasil – Indígena, Português e Africano.
Constantemente, penso sobre a epopéia dos descobrimentos Portugueses e o que levou os meus antepassados, a desbravarem esses mares nunca antes navegados. A coragem a determinação de um povo, que procurando sobreviver, encontrou novos povos, novas culturas novas gentes... Gentes diferentes por esse globo terrestre fora.
Tento imaginar o que seria no século XV e XVI viajar dentro de uma nau, atravessando durante meses e meses os oceanos perfeitamente desconhecidos, com intempéries e passando por lugares que se julgavam inultrapassáveis, porque os relatos anteriores diziam que havia monstros (enfim lendas que foram desmistificadas pelos bravos e destemidos marinheiros Portugueses).

Acho que sem convencimento algum, nem melindrando ninguém, posso afirmar, com as devidas proporções temporais, que podemos comparar a importância dos descobrimentos Portugueses, á viagem do primeiro homem á lua...
Agora estava junto, ao que foi o primeiro local de desembarque dos marinheiros Portugueses, quando resolveram aportar em terras de Porto Seguro.