Artistas, Políticos, Cantores, Formadores de opinião – A nata estava toda presente. Que orgulho para todos nós, tínhamos conseguido o nosso objetivo. O mestre sorria, Carla mais parecia uma criança de tanta felicidade, os irmãos e irmãs de Beto irradiavam orgulho do seu irmão artista e artesão gastronômico.
Fleches e fleches sorrisos e sorrisos, só alegria...
Aquela noite mágica tinha sido organizada por uma senhora Sergipana de nascença, mas Baiana de alma e coração.
Eu também já me sentia soteropolitano.
Os garçons mal conseguiam movimentar-se no meio de tanta gente convidada, circulava no ar um bouquet intenso de perfume de mulher, as senhoras elegantemente vestidas, eu, Carla, Beto e sua companheira, ficamos juntos no meio da escadaria, que dava para a parte de baixo do restaurante, perto do pergolado.
A casa estava soberbamente decorada, o esmero e a qualidade do trabalho eram evidentes.
Só palavras de apreço e elogios a todo o segundo. Muitos parabéns, sucesso – diziam os convidados que chegavam a todo o momento, junto de nós – abraços, apertos de mão. Quanta felicidade.
Parecia uma casa de campo, no meio da cidade, num bairro ligado ás artes, ás letras e á cultura.
As mesas eram de madeira todas feitas por encomenda, com pé de alumínio na parte interna (salão) e na varanda, as cadeiras também de madeira com estofo num tecido branco e vermelho ás riscas.
A parte externa era composta por um pergolado de pinho, onde havia umas mesas com tampo de mármore e pé de alumínio acompanhadas de cadeiras brancas igualmente de alumínio.
O paisagista esmerou-se tentando recriar o ambiente de uma chácara, colocou vasos enormes cor de tijolo, com pés de capim-santo, hortelã grossa, abil, limão, pitanga, dracena, boldo, arruda, tapete de oxalá e buganvílias. A volta do gradeamento que circundava a casa plantou várias espécies de flores e plantas, que criavam um ambiente campestre. Na área do pergolado, existiam várias luzes, que saiam do chão, iluminando a noite e tornando-a mais bela.
Mas o lugar mais apaixonante da casa, sem dúvida era a “AMENDOEIRA” existente, junto á grade.
Toda a área próxima da árvore foi decorada com quatro conjuntos de madeira, constituídos por mesa redonda pequena e quatro cadeiras cada, espalhados uniformemente. O chão estava todo decorado com pedras pequenas. Havia igualmente quatro espreguiçadeiras e dois bancos de jardim, com molas.
Este espaço que rodeava a amendoeira tornou-se o local mais concorrido do Restaurante.
E não era para menos. A artista plástica Luiza Olivetto, criou uma obra de arte que envolvia a árvore, como se de um abraço se tratasse. Fez uma Cobra de garfos e facas, soldados entre si, que se enrolava pela amendoeira até ao topo. Iluminada a amendoeira com focos de luzes, resultava numa beleza estética fora do comum, que despertava a curiosidade das crianças, adultos e de todos os transeuntes
Era mágico sentar-se ao final da tarde perto daquela árvore, tomando um vinho tinto e fumando um charuto, jogando conversa fora.
A festa continuava com muita animação.
Beto tinha escolhido um cardápio super especial, pois o momento assim o exigia;
Caldo de Sururu, de Camarão e de Polvo.
Casquinha de Siri.
Carne do Sol com Farofa de Aipim e Manteiga de Garrafa.
Arroz de polvo.
Moqueca de Camarão, Lagosta e Polvo (o famoso Calapolvo).
E famosa Torta de Maturí com Creme de Palmito de Coqueiro.
Este maravilhoso menu era regado e bem regado com Água, Refrigerante, Roskas de vários sabores, Vinho Branco, Vinho Tinto, Whisky e Espumante. Os nossos patrocinadores e fornecedores de bebidas, não impuseram nenhuma restrição ao consumo daquela noite.
Nós é que tivemos de limitar... Senão seria um pouco complicado... Uma boa farra de quando em quando é ótimo.
Durante a festa o mestre vestiu-se a rigor, com uma bata, com o seu nome que tinha sido criada por Lara, para esse dia tão especial e acompanhado pelos garçons, desceu pela escadas, com uma travessa grande de Torta de Maturí nas mãos e ofereceu-a no meio dos fleches e câmaras á madrinha de todo este projeto, como forma de agradecimento, realçando em voz alta, o papel primordial que ela teve.
Por momentos ouviu-se uma salva de palmas. Beto estava emocionado.
Todos nós estávamos os que tinham participado deste projeto desde o início e os que por simples amizade, desejavam que o mesmo tivesse o merecido sucesso. Muito obrigado a todos, disse.
Uma nova fase uma nova vida, novos desafios outras propostas.
Agora sim, o capitão e nosso mestre tinha um novo desafio, já não era um simples barco, mas um navio que tinha de dirigir juntamente com a sua tripulação e o meu papel seria de coadjuvante, tentando cumprir as regras já existentes e evitando que possíveis tempestades, o derrubassem.
O restaurante era um sucesso garantido.
Todos os dias da semana aos almoços e jantares, o movimento era intenso.
Novidade num local super aprazível e com muito boa localização e o Baiano, adora o que é novo. Principalmente durante o mês de Maio e aos finais de semana, tínhamos filas de espera incríveis.
Todos queriam conhecer a culinária de Beto, beber os sucos que eram autênticas obras de arte e provar algumas das suas iguarias naturais.
Evidente que os Soteropolitanos, não comem Moqueca todos os dias, até porque existe uma pequena aversão ao dendê, derivado das calorias e da eventual saturação provocada, comecei a aperceber-me disso lentamente.
A freqüência no primeiro mês após a abertura era especialmente de clientes baianos, alguns turistas poucos, ainda não tínhamos começado a divulgação junto dos hotéis espalhados pela cidade.
O nosso espaço agradável teria de ser o chamariz, juntamente com a gastronomia, para isso comecei com Carla e a Via press, a fazer um trabalho muito incisivo sobre a culinária do Paraíso Tropical, mostrando que a mesma seria inovadora e diferente, devido aos produtos light que o mestre criara e colocava na sua gastronomia.
Não seria fácil... Existe até hoje certo preconceito em relação ao óleo de dendê... Tentaríamos desmistificar um pouco essa questão.
Os clientes adoravam as frutas que oferecíamos nos finais das refeições, era um charme que Beto tinha criado. No Cabula os clientes levavam após as refeições, no Rio Vermelho também, só que comecei a verificar alguns custos extras exagerados.
Comprávamos quase diariamente uma verba avultada para serem oferecidas, já que agora com dois restaurantes e com a diversidade existente nas travessas doadas, não havia frutas que chegasse.
Por vezes, havia alguns comentários, não sei se verdadeiros ou se era intriga, que os clientes reclamavam; No Cabula levamos sacos de plástico cheios de frutas e no Rio Vermelho não – Tentava equilibrar essa situação, até porque as nossas despesas eram muito elevadas, não só com o pessoal, mas também com todo um processo de estoque de mercadoria e produtos.
Utilizávamos a parte de baixo da casa, garagem onde guardávamos uma parte da mercadoria.
A quantidade de polpas de frutas existente em estoque e guardada em freezers é enorme, até para que o cliente tivesse uma opção.
Não poderíamos falhar com nada, senão viria logo de seguida a comparação com o Cabula.
E infelizmente algumas pessoas, adoravam esse tipo de comparação para provocarem desunião.
Várias vezes tanto clientes, como pessoas que se tornaram amigas, conversavam conosco, alertando para algumas situações que originavam comentários... Ricardo, vocês juntos funcionam como equipe, portanto não dêem ouvido aquilo que poucos dizem.
Escutava com atenção e mantinha-me em silencio.
No meio do ano Licia comemorou o seu aniversário no Paraíso Tropical no Rio Vermelho, oferecemos uma festa linda para ela. Mais uma vez, o mestre se recriou e fez os convidados da aniversariante, saborearem as suas autênticas iguarias. Convidados e amigos de todo o Brasil, selecionadissimos.
Várias revistas de tiragem nacional estavam presentes, para além de toda a mídia e sites.
A Revista Caras, Flash de Amaury Jr. e outras, fizeram reportagens fotográficas do evento.
O aniversário de Licia era um acontecimento na Bahia e não só e tínhamos o privilégio de organizá-lo.
Na nossa equipe de garçons, treinados por nós havia um moço negro muito peculiar e inteligente, que se tornou uma das atrações do Rio Vermelho, seu nome Edinaldo, era gago, gaguejava mais, quando estava nervoso, o seu trabalho era feito com dedicação e requinte, todos o adoravam pela sua educação e atenção. Tinha um dom e uma paixão; a música.
Tocava trombone. Certo dia vi-o entrar com uma espécie de caixa preta, indaguei – o que é isso? Um Trombone Sr. Ricardo.
Você toca Trombone! Estou tendo umas aulas para aprender.
Achei aquilo fantástico e resolvi apoiá-lo...
Ofereci uma verba ao nosso Garçom músico, para que pudesse adquirir o instrumento que era alugado de um amigo e assim desenvolver mais, a sua veia musical.
Teria uma condição exigida por mim, aprender uma ou duas músicas, para tocar para os clientes sempre que fosse necessário e saber de cor e salteado uma: Emoções de Roberto Carlos, para presentear á nossa amiga e aniversariante, naquele dia tão especial.
Do alto das escadas que davam para a área externa e pergolado, o nosso Garçom com dotes musicais, um pouco introvertido é claro, perante tão ilustre platéia, começou os acordes da música preferida.
O sucesso foi tanto que os clientes iam para o restaurante comemorar aniversários e festas e pediam para o Garçom Músico estar presente...
Quantos Parabéns a Você, o nosso Edinaldo tocou!... Muitas vezes. Ah! E ganhou ainda o Garçom do ano.
Parabéns para ti também Edinaldo...