quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Décima Quinta Dose de Pílulas do Livro...

Em Portugal por todo o território nacional há uma bebida que é feita da Uva e que foi introduzida pelos Romanos na Península Ibérica.
Digo em todo o território porque existem várias Regiões Demarcadas de produção de Vinho.
A Região Demarcada mais antiga do mundo é a do Douro, no norte de Portugal, perto da cidade do Porto, que dá origem ao nome do vinho mundialmente conhecido e que se bebe antes ou depois das refeições.
Comecei a interessar-me por Vinho aos meus vinte e quatro anos de idade quando um amigo Tó Manuel começou a ensinar-me a “Arte” de tomar vinho... Vinho não se bebe toma-se, dizia o Tó.

Parece estranho, mas é verdade.

Toma-se porque o ato de bebê-lo é antecedido, por todo um ritual que desperta os nossos sentidos primários, cheira-se, molha-se levemente os lábios, deixa-se o vinho respirar e por fim está pronto a ser degustado.
Existem vinhos que são autênticos néctares dos deuses.
“Baco” bem sabia disso...
Tó Manuel Alfacinha de gema e esquerdista nato viveu toda a fase de luta antifascista que antecedeu a Revolução dos Cravos.
Ele e os seus amigos da Boemia Lisboeta circulavam pelas tascas Alfacinhas, provando a essência das Castas vinícolas Portuguesas e discutindo o futuro de Portugal e dos Portugueses, ao som de Zeca Afonso, Vitorino, Adriano Correia de Oliveira e outros.
Para começar a interessar-se por vinho tem de se provar tipos de vinho, de várias castas e sabores e anos, para que o paladar fique apurado e selecionado.
Como evidente é, vão-se descobrindo paladares diferenciados, de acordo com as regiões, solos, sais minerais, tipos de uva, misturas de castas e ano da vindima, a qualidade vai aumentando e a exigibilidade também.
Tendencialmente quanto mais anos estiver o vinho na garrafa, guardado deitado na horizontal, em boas condições de umidade e temperatura e com uma boa cortiça como rolha, melhor a sua qualidade.
O vinho evolui na garrafa ao longo dos anos.
Para uma melhor degustação desse vinho, convém abri-lo no mínimo, uma hora antes, para que ele possa respirar o tempo suficiente e os seus paladares apurarem em contato com o oxigênio.

Com outro amigo de trinta anos de pura e verdadeira amizade, pude viajar por todo o Portugal, visitando as Adegas Cooperativas do Alentejo e não só, adquirindo nas feiras vinícolas, autênticos néctares, enquanto as nossas esposas faziam outras compras, nós dávamos uma escapadela e íamos para o setor dos vinhos, discutir preços e qualidade.

A esse amigo irmão eterno “Miguel Cunha”, saudações vinícolas.

Tive o prazer de tomar e degustar vinhos de boa qualidade de vários países, mas nesse caso eu sou nacionalista nato.
Sem petulância nem arrogância, o que falta aos vinhos de alguns países, tem o português.

“Vinho com alma só o Português”...

Estas informações que adquiri na minha vida, provando e conhecendo vinhos, tentava ensinar aos meus colaboradores, para que pudessem melhor servir os clientes.
E aprenderam um pouco dos meus limitados conhecimentos.
Aos clientes e amigos mais chegados, sempre que possível criava um dia para degustação de vinhos, portugueses e não só, onde aqueles momentos juntos da “Amendoeira” se tornassem únicos e pudesse contribuir, mesmo que em pequena escala, para um melhor conhecimento e aprofundamento dessa bebida dos Deuses.
Consegui que alguns fornecedores utilizassem o espaço, para lançamento e prova de algumas das suas marcas de vinhos.
O Paraíso Tropical estava a tornar-se um ponto de referência, dentro da sociedade baiana e eu sentia-me satisfeito.

Perto do nosso Restaurante foram aparecendo e abrindo aos poucos outros negócios, várias casas comerciais, que davam ao bairro um ar mais alegre vivo e movimentado.
Data certa não me recordo exatamente qual, sei que em meados do mês de Agosto de dois mil e quatro, estava a almoçar com Carla por volta das quatorze horas na varanda e vejo uma senhora elegante, dirigir-se a mim.
Boa tarde, você é o Ricardo? Levantei-me assim que a senhora se aproximou, estendi-lhe a mão e cumprimentei-a, boa tarde, sou; em que posso ser útil? Carla já a conhecia era Luzia Santana – Jornalista da TV Salvador (pertencente á TV Bahia, filial da Globo) – que tinha um programa “Nomes” de enorme sucesso – Começamos a conversar, convidei-a para sentar-se junto a nós, ao que acedeu de imediato. Que espaço maravilhoso vocês têm aqui. Obrigado (a) respondemos quase em uníssono.
Gostaria de fazer uma entrevista, aqui neste local a Lucila Diniz que amanhã vai lançar um livro aqui em Salvador, sobre a sua experiência pessoal de emagrecimento.
Claro, prontamente respondi, será uma satisfação, o espaço é seu, disponha.
A varanda ficava num local estratégico do restaurante, dali se observava toda a área externa e a praça na rua.
Era toda decorada com alguns objetos de artesanato Mineiro.
Existia junto á parede com os azulejos portugueses da década de cinqüenta, um banco grande coberto de almofadas feitas de esponja e de um tecido ás riscas vermelhas brancas e amarelas.
Do mesmo tecido e cor das almofadas, eram as cortinas que cobriam os vidros das duas laterais da varanda.
Em cada canto estavam duas mesas de madeira com tampo redondo e pé de alumínio.
Uma de seis lugares e outra de oito lugares, para além de mais três mesas de tampo quadrado.
Lucilia Diniz chegou passados alguns minutos.
Fomos apresentados por Luzia Santana, Carla fez as honras da casa, falando um pouco da história da nossa gastronomia.
A entrevistada ia lançar um livro sobre emagrecimento e foi logo, para um restaurante de comida baiana... Que contradição.
Antes pelo contrário, o mestre tinha desenvolvido um prato inovador chamado de Moqueca Vegetariana. Explicado como era o prato, Lucilia acedeu experimentar.
A entrevistada respondeu ás perguntas da Jornalista e de seguida, sentou-se á mesa para calmamente desfrutar da sua refeição.