quarta-feira, 21 de julho de 2010

Quarta Dose de Pilulas do Livro...

A Baia de todos os santos é a maior do Brasil e uma das maiores do mundo. Tem uma área de mais ou menos 970 km2, trinta ilhas, imensas praias e enseadas que formam belíssimas paisagens e diversos rios e riachos.

A beleza da cidade – salvador- confunde-se com o seu mar e com a extensão do mesmo.
Águas calmas, tranqüilas, como se os santos, nos quisessem dizer..., algo.
Velejar, pelas águas da baia, nos remete para momentos únicos de tranqüilidade e paz interior.
Soube mais tarde, o significado desta vivência, profícua.
Regressei a Salvador, em dois mil e um, para assistir “in loco” aquilo que só ouvia falar através da mídia. O carnaval de Salvador é uma festa indescritível e única, que só pode ser retratada através da vivência pessoal de cada um.
Cheguei, numa Quinta-Feira pela noite e fui diretamente para um apartamento alugado, perto de um dos circuitos do carnaval – Campo Grande...
Pela manhã do dia seguinte, uns amigos foram buscar-me para me mostrarem a folia carnavalesca.
Passamos os dois dias que se seguiu á minha chegada, divertindo-nos e conhecendo o que de bom esta festa mágica tem para nos mostrar. É interessante tentar descrever, a alegria, a satisfação, que se vê nos rostos das gentes, espalhadas por essa Salvador mágica e verdadeira...
Viver a Bahia em período especial de alegria é algo que tem a ver com magia... Magia é o sorriso das gentes – das crianças – dos pais – das avós... Enfim de todos nós, que procuramos, sempre e constantemente, aquele momento especial de felicidade, mais que não seja aquele momento...

“A vida é feita de pequenos nadas e são os nadas que constrói o todo”
E o que são os nadas, senão os momentos, somados e elevados á sensação prazerosa de eventualmente, podermos ser um pouco felizes... Algures.

Por volta das treze horas de Domingo, dirigi-me á concentração do trio elétrico – Bloco Eva – com quem? Adivinhem claro Ivete Sangalo.
Jamais imaginaria e o digo com plena convicção, que pudesse vivenciar algo tão diferente do que estava habituado.
Não imaginava o que era um bloco de carnaval, nem nunca tinha visto um trio elétrico – o que passava em Portugal através da televisão era o carnaval do Rio – Sambódromo.
Jamais, tinha a noção do que era a folia.
As pessoas se concentram e esperam que o bloco - número de pessoas junto ao trio - que adquirem um abada, saia pela avenida. O percurso dura em média umas cinco a seis horas.
Ao longo do trajeto, a sensação de felicidade está estampada nos rostos destas gentes, cantam, dançam, gritam... Olhava para as casas e via cartazes – dizendo: eu te amo Ivete – eu te adoro Ivete – o som e a música, faziam estas gentes, se deliciarem com o ritmo e com o suingue constante e ritmado... Que delícia.
Ficava imaginando, os meus estimados amigos em Lisboa, com uma temperatura de cinco seis graus – frio pra carago – e eu nesse bem bom eufórico e vivenciando, momentos únicos de satisfação.
Olhava e via pessoas nas árvores – ao longo do percurso, nas varandas das casas, nos passeios... E toda a bela gente dançando e vibrando...

Como é bom ser baiano... Pensava.
Como devem imaginar, nos dois dias subseqüentes, já me sentia perfeitamente em casa – como se diz em bom Português.

Retornei no ano a seguir pelos mesmos motivos – á procura de algo! O quê? – e a minha vida começou a ser alterada, minuto a minuto eu me reencontrava com o meu sentido/destino/vida.
Vim, a saber, mais tarde, (alguém me confidenciou) que o meu “regresso” á Bahia-Salvador, tinha a ver com uma questão espiritual de resgate, com alguém, com algo...
O que era esse resgate? Indagava constantemente... Sabem aquela noção de insatisfação constante..., Deixou de existir a partir do momento em que vim para a Bahia.
Meu querido e amado pai Roldão e minha querida e amada mãe Zita (já desencarnada) me mostraram o caminho da espiritualidade, e do amor.
Desde miúdo, com outros entes familiares, que me são muito queridos, buscávamos intensamente a verdade, através da doutrina e do racionalismo cristão.
Fui educado sabendo, que um dia, certo dia, abandonaria esta fisionomia, para aceder a outros campos energéticos, onde pudesse continuar a evoluir.
Por isso quando alguém me disse – Ricardo tu estás aqui hoje e agora, para cumprir aquilo que não terminaste um dia! Nada respondi, simplesmente acedi á constatação.
Vim a verificar que realmente, as coisas foram se avolumando ao longo dos anos, de uma forma intrínseca e verdadeira... E quando dei por mim estava em Salvador, casado e apaixonado pela mulher baiana – que segundo me disseram, fazia parte do meu resgate de vidas passadas.

Estranho!... Mas verdadeiro e verossímil.
Olhava e procurava talvez, algum olhar no meio de tantos olhares, de tantas dissertações de tudo o que é possível procurar e verificar.
Talvez pudesse encontrar – ou sentir – os sentidos nos dão a orientação dos momentos precisos, nos transportam para além – e estávamos no meio do carnaval, num camarote em algum local da Barra.

Encontrámo-nos no meio desses olhares, mas aqueles olhos eram únicos e talvez fosse o momento.
Depois daquele minuto, tudo mudou...
Aquele minuto se transformou em minutos e os minutos em horas, paixão, amor, meses, casamento. Sim, casei-me mais tarde, com Carla em Dezembro de dois mil e três em Salvador... Que loucura deliciosamente louca.
Alguns dias depois, tinha de viajar para Natal, para me encontrar com uns amigos e regressaria para Lisboa, via Recife.
Só que a “saudade” era mais forte... A palavra “Saudade” só é conhecida em Galego-Português e mostra a mistura dos sentimentos de perda, amor e distância, define a mágoa que se sente pela ausência... E quando matamos a “Saudade” sentimos alegria.
De Lisboa, falava todos os dias com Carla – via telefone, até que tomamos uma decisão, que penso ter sido a mais sensata... (até pelos custos inerentes... telefônicos!).
Carla foi viver para Portugal – assim estávamos mais perto um do outro e poderíamos desfrutar daquilo que sonhávamos há já alguns meses.

Terceira Dose de Pílulas do Livro...

Em vinte e cinco de Abril de mil novecentos e setenta e quatro, deu-se uma revolução em Portugal, revolução pacífica – chamada de revolução dos cravos – ela acontece devido ao descontentamento de um pequeno grupo de oficiais do exército Português (movimento dos capitães de Abril) que descontentes com a sua situação, resolvem tomar o poder.

A mudança política e social em Portugal desencadeia o que já se espera á bastante tempo – a descolonização dos países africanos de expressão portuguesa – Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.
Eu fui para Portugal com os meus pais em Outubro de mil novecentos e setenta e cinco, com nove anos de idade.
Toda a minha formação e todo o meu crescimento foram passados em Lisboa.
Foi em Lisboa, que fui adolescente, que me formei e aprendi a ser homem a ser marido e por último pai.

Foi em Portugal que aprendi a amar e ser amado...

Lisboa a cidade das sete colinas.
A história confunde-se com a própria vida das pessoas e Lisboa tem essa capacidade de fazer que constantemente nos lembremos dela – cidade. Bairro alto, Mouraria, Madragoa, Alfama – bairros típicos que por si só são a história desta cidade cheia de luz, cidade branca, banhada pelo rio Tejo – e que tantas vezes foi cantada através dos poetas.
Cidade dos poetas – cidade do FADO – cidade de Santo António (que nasceu em Lisboa no bairro da graça e não em Pádua, como muitos querem fazer crer) Cidade dos Fados/Destinos – Capital do grande império que foi Portugal, país á beira mar plantado que um dia ousou conquistar os mares e desafiar os velhos do Restelo.
Cresci, nessa mudança política constante entre a esquerda e a direita – entre o socialismo e a chamada socialdemocracia que afinal não é mais que um neoliberalismo/ ou capitalismo camuflado. Durante muitos anos o rumo do país parecia descambar para um precipício (como disse um dia "João Alves da Costa” um manicômio em auto-gestão” exagero ou não um célebre dia de mil novecentos e oitenta e cinco, no Mosteiro dos Jerónimos, em Belém – foi assinado o tratado de adesão de Portugal á Comunidade Econômica Européia.

Comunidade Econômica Européia! Perguntávamos nós, o que é isso, será que o país vai beneficiar também no aspecto social!
Diga-se de passagem, que todas as pessoas que me conhecem, sabem bem que eu sempre fui um céptico em relação aos objetivos finais da CEE, como era conhecida a sigla.
A adesão de Portugal foi efetuada em três fases, na primeira fase o objetivo era uma união agrícola – uniformização dos processos agrícolas dos doze países (na altura) pertencentes á CEE.
Na segunda fase, uma união econômica – critérios de convergência econômicos, moeda única Euro e uma terceira fase que levanta e levantará mais polêmica ao longo dos anos que é a união política, fazer uma confederação de estados europeus – naturalmente que para nós estudantes universitários e jovens irreverentes e contestatários, isto tudo nos cheirava a esturro. Eu viria a ter razão.
Claro que com a quantidade de dinheiro enviado a fundo perdido, os governos foram ao longo dos anos, construindo estradas, hospitais, escolas e camuflando um pouco as questões sociais, desemprego, baixos ordenados, custo dos produtos essenciais muito elevados, preço da habitação super inflacionado, custo dos transportes, gasolina a um preço exorbitante, a mais cara da Europa, impostos elevadíssimos – claro que a comunidade européia tinha um preço e nós estávamos a começar a pagar por esse preço de uma forma muito elevada.
Portugal praticamente importa tudo, excetuando alguns bens de consumo de primeira necessidade.
O país produz vinho, azeite e cortiça, a indústria salvo raras exceções, não se preparou convenientemente para a competitividade que aí vinha. Os mais preparados tomariam conta do mercado.
A salvação era o turismo, devido ao litoral que Portugal detém e também por causa do clima ameno existente, em comparação com outros países da Europa. Mas nem no turismo se conseguiu atingir os objetivos a que se propunham.
Os nossos vizinhos espanhóis, melhor preparados começaram a tomar conta de alguns sectores da economia portuguesa e aproveitando o espaço econômico livre, sem restrições, foram aos poucos comprando o que de melhor havia no país. As multinacionais de grandes empresas mundiais que tinham sede em Lisboa e no Porto foram fechando e transferindo-as para Madrid – a nova capital da península ibérica.

Não querendo ser muito céptico Portugal transformou-se num país de serviços...
A população inicialmente sentia-se indignada, depois quase que atraiçoada e finalmente angustiada.

– É o fado / destino dos portugueses...!

A melancolia dava lugar á alegria e á satisfação, as pessoas deixaram de ter poder de compra e refugiavam-se nas suas casas, a taxa de endividamento bancário é muito elevada no país, à população trabalha para pagar o empréstimo da casa durante trinta anos e o carro durante cinco anos, com os ordenados mais baixos da Europa e com a carga tributária mais elevada o português tornou-se angustiado e com a entrada do Euro (moeda única) a situação agravou-se ainda mais, porque os bens de consumo ficaram todos mais caros.
O português com as regras impostas por Bruxelas - economicistas e tecnocráticas tornou-se mais solitário, só pensando em si próprio e não tendo tempo sequer para a família quanto mais para os seus amigos e conterrâneos é o sistema capitalista funcionando da forma mais atroz.

Esta é a essência do Portugal que eu conheço e vivi até bem pouco tempo atrás.
Não gosto deste Portugal, queria aquele Portugal humano, social e tranqüilo onde as pessoas se cumprimentavam na rua sem estarem preocupadas se terão dinheiro para pagar a renda da casa e a prestação do carro (porque os juros vão subir) e iam á padaria comprar pão feito no forno á lenha, sem pensarem em abastecer o carro hoje, (porque amanhã a gasolina aumentará outra vez).

Que saudades do Portugal Português de todos nós e que indiferença ao Portugal Pseudo Europeu... De alguns; muito poucos.