A Baia de todos os santos é a maior do Brasil e uma das maiores do mundo. Tem uma área de mais ou menos 970 km2, trinta ilhas, imensas praias e enseadas que formam belíssimas paisagens e diversos rios e riachos.
A beleza da cidade – salvador- confunde-se com o seu mar e com a extensão do mesmo.
Águas calmas, tranqüilas, como se os santos, nos quisessem dizer..., algo.
Velejar, pelas águas da baia, nos remete para momentos únicos de tranqüilidade e paz interior.
Soube mais tarde, o significado desta vivência, profícua.
Regressei a Salvador, em dois mil e um, para assistir “in loco” aquilo que só ouvia falar através da mídia. O carnaval de Salvador é uma festa indescritível e única, que só pode ser retratada através da vivência pessoal de cada um.
Cheguei, numa Quinta-Feira pela noite e fui diretamente para um apartamento alugado, perto de um dos circuitos do carnaval – Campo Grande...
Pela manhã do dia seguinte, uns amigos foram buscar-me para me mostrarem a folia carnavalesca.
Passamos os dois dias que se seguiu á minha chegada, divertindo-nos e conhecendo o que de bom esta festa mágica tem para nos mostrar. É interessante tentar descrever, a alegria, a satisfação, que se vê nos rostos das gentes, espalhadas por essa Salvador mágica e verdadeira...
Viver a Bahia em período especial de alegria é algo que tem a ver com magia... Magia é o sorriso das gentes – das crianças – dos pais – das avós... Enfim de todos nós, que procuramos, sempre e constantemente, aquele momento especial de felicidade, mais que não seja aquele momento...
“A vida é feita de pequenos nadas e são os nadas que constrói o todo”
E o que são os nadas, senão os momentos, somados e elevados á sensação prazerosa de eventualmente, podermos ser um pouco felizes... Algures.
Por volta das treze horas de Domingo, dirigi-me á concentração do trio elétrico – Bloco Eva – com quem? Adivinhem claro Ivete Sangalo.
Jamais imaginaria e o digo com plena convicção, que pudesse vivenciar algo tão diferente do que estava habituado.
Não imaginava o que era um bloco de carnaval, nem nunca tinha visto um trio elétrico – o que passava em Portugal através da televisão era o carnaval do Rio – Sambódromo.
Jamais, tinha a noção do que era a folia.
As pessoas se concentram e esperam que o bloco - número de pessoas junto ao trio - que adquirem um abada, saia pela avenida. O percurso dura em média umas cinco a seis horas.
Ao longo do trajeto, a sensação de felicidade está estampada nos rostos destas gentes, cantam, dançam, gritam... Olhava para as casas e via cartazes – dizendo: eu te amo Ivete – eu te adoro Ivete – o som e a música, faziam estas gentes, se deliciarem com o ritmo e com o suingue constante e ritmado... Que delícia.
Ficava imaginando, os meus estimados amigos em Lisboa, com uma temperatura de cinco seis graus – frio pra carago – e eu nesse bem bom eufórico e vivenciando, momentos únicos de satisfação.
Olhava e via pessoas nas árvores – ao longo do percurso, nas varandas das casas, nos passeios... E toda a bela gente dançando e vibrando...
Como é bom ser baiano... Pensava.
Como devem imaginar, nos dois dias subseqüentes, já me sentia perfeitamente em casa – como se diz em bom Português.
Retornei no ano a seguir pelos mesmos motivos – á procura de algo! O quê? – e a minha vida começou a ser alterada, minuto a minuto eu me reencontrava com o meu sentido/destino/vida.
Vim, a saber, mais tarde, (alguém me confidenciou) que o meu “regresso” á Bahia-Salvador, tinha a ver com uma questão espiritual de resgate, com alguém, com algo...
O que era esse resgate? Indagava constantemente... Sabem aquela noção de insatisfação constante..., Deixou de existir a partir do momento em que vim para a Bahia.
Meu querido e amado pai Roldão e minha querida e amada mãe Zita (já desencarnada) me mostraram o caminho da espiritualidade, e do amor.
Desde miúdo, com outros entes familiares, que me são muito queridos, buscávamos intensamente a verdade, através da doutrina e do racionalismo cristão.
Fui educado sabendo, que um dia, certo dia, abandonaria esta fisionomia, para aceder a outros campos energéticos, onde pudesse continuar a evoluir.
Por isso quando alguém me disse – Ricardo tu estás aqui hoje e agora, para cumprir aquilo que não terminaste um dia! Nada respondi, simplesmente acedi á constatação.
Vim a verificar que realmente, as coisas foram se avolumando ao longo dos anos, de uma forma intrínseca e verdadeira... E quando dei por mim estava em Salvador, casado e apaixonado pela mulher baiana – que segundo me disseram, fazia parte do meu resgate de vidas passadas.
Estranho!... Mas verdadeiro e verossímil.
Olhava e procurava talvez, algum olhar no meio de tantos olhares, de tantas dissertações de tudo o que é possível procurar e verificar.
Talvez pudesse encontrar – ou sentir – os sentidos nos dão a orientação dos momentos precisos, nos transportam para além – e estávamos no meio do carnaval, num camarote em algum local da Barra.
Encontrámo-nos no meio desses olhares, mas aqueles olhos eram únicos e talvez fosse o momento.
Depois daquele minuto, tudo mudou...
Aquele minuto se transformou em minutos e os minutos em horas, paixão, amor, meses, casamento. Sim, casei-me mais tarde, com Carla em Dezembro de dois mil e três em Salvador... Que loucura deliciosamente louca.
Alguns dias depois, tinha de viajar para Natal, para me encontrar com uns amigos e regressaria para Lisboa, via Recife.
Só que a “saudade” era mais forte... A palavra “Saudade” só é conhecida em Galego-Português e mostra a mistura dos sentimentos de perda, amor e distância, define a mágoa que se sente pela ausência... E quando matamos a “Saudade” sentimos alegria.
De Lisboa, falava todos os dias com Carla – via telefone, até que tomamos uma decisão, que penso ter sido a mais sensata... (até pelos custos inerentes... telefônicos!).
Carla foi viver para Portugal – assim estávamos mais perto um do outro e poderíamos desfrutar daquilo que sonhávamos há já alguns meses.