sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Décima Sexta Dose de Pílulas do Livro...

O outro entrevistado para o programa que estava a ser gravado era um artista visual, de tez morena e bigode extenso levemente puxado para os lados, tipo português do início do Século XX.

Com muita boa dicção notava uma rapidez de raciocínio grande e uma postura muito correta perante a entrevistada.
Quem era aquele homem de meia idade que aparentava ser um cavalheiro.
Tinha observado quando da sua chegada, a sua esmerada educação ao cumprimentar todos os presentes com a maior das simplicidades. Estava acompanhado de uma senhora, a qual se sentou à mesa ao lado da minha, gentilmente, este cavalheiro baiano puxou a cadeira para a senhora se sentar.
Eu estava a tomar um Vinho Português (concerteza) da Região de Palmela Reserva João Pires, quando a entrevista terminou.
De seguida Luzia Santana chamou-o pelo nome, Bel vem conhecer o sócio e genro de Beto.
Conversamos à tarde quase toda e tomamos algumas Reservas de Palmela, entre histórias, risos e gargalhadas.
Começava naquela tarde uma amizade que dura até ao dia de hoje.

Alberto José da Costa Borba – refletir sobre este homem que se tornou meu amigo em terras de Salvador, torna-se fácil e difícil ao mesmo tempo. Parece contraditório este raciocínio.
Fácil porque o relacionamento de irmandade existente e a identificação que daí resultou, aproximou o meu olhar e conseqüentemente abriu as portas do conhecimento e da amizade.
Difícil porque esse conhecimento e essa amizade verdadeira fazem com que o meu olhar se torne mais incisivo ás vezes critico, ou ousado.
Já fizemos muita coisa juntos, em termos de criatividade de entre ajuda de lazer e de saber.
Mais uma vez tento colocar a amizade de lado para analisar o Artista Bel Borba. Neutralidade neste caso é difícil.
Unanimidade é a palavra para descrever este homem simples de nome Borba.
A identificação entre as pessoas acontece, quando há algo em comum ás vezes basta um traço simples.
Aquariano verdadeiro extremamente rápido de raciocínio e de ações.
Observar Bel a produzir é extraordinário e interessante, produz e cria,
Com uma rapidez incessante, não pára enquanto a sua criação não está terminada.
Andar pela cidade de Salvador e vê-la decorada pelos trabalhos de Bel é uma satisfação.
Transformou Salvador numa galeria de arte, onde todos possam ter acesso. Paredes, muros, encostas, casas, todo o local possível, Bel faz as suas intervenções de mosaicos de azulejos e de esculturas.
O artista mais multifacetado da sua geração.

A acessibilidade é a grande relevância da sua obra, tornou acessível a todos, aquilo que se presumia que era só para alguns...

Com isso, a imensa visibilidade das suas intervenções. Pinta, esculpe, desenha, trabalha com os mais variados materiais, inovador e criador por excelência, os seus trabalhos sempre surpreendem pela sua contemporaneidade: Madeira, barro, ferro, acrílico, materiais recicláveis, tudo serve para este homem/menino se auto-recriar.
Como ser humano Borba é imenso, idêntico á sua obra...

Carla estava grávida, radiantes e felizes com a notícia estávamos todos.
Momentos únicos na vida de qualquer mulher e ainda o primeiro filho.
Combinamos uma coisa; se fosse menino ela escolhia o nome da criança se fosse menina escolheria eu.
Os meses que se seguiram até Janeiro de dois mil e cinco, foram de extrema felicidade, Carlinha ia ser mãe e toda a sua doçura e carinho transportava para aquele ser que germinava dentro do seu ventre.
O seu rosto começava a mudar aos poucos e a sua fisionomia igualmente, sorria com facilidade, parecendo querer dizer alguma coisa, a quem olhava para si.
Começava a notar com maior freqüência nas outras mulheres grávidas ou com crianças recém nascidas. Olha Ricardo, olha que bebê lindo! Dizia constantemente a futura mãe.
Como que por um passe de mágica, a gravidez veio alterar as nossas vidas, fazendo com que a energia se tornasse única e verdadeira. Iria nascer um ser, resultado de uma união que tinha começado um dia, durante o carnaval.

Um sábado á noite um garçom chamou-me e comunicou-me que estava presente no restaurante um senhor que dava pelo nome de Bruno Nunes, que sabia que eu era Português e queria falar comigo.
Na mesa estavam sentados, ele e a sua esposa, uma bonita mulher, elegante e muito bem vestida que chamava a atenção de todos.
Cumprimentei-os e quase de seguida afirmou: Muito bom gosto musical você tem! Sorri e agradeci. Obrigado, porque diz isso? Eu sou músico e é raro irmos a um restaurante e ouvirmos tão boa seleção musical. Agradeci mais uma vez o elogio e solicitei que me trouxessem um cd especial, que eu reservava para momentos como este.
Bruno era músico, compositor e interprete das suas músicas e durante a nossa longa conversa (durou até de manhã) descobri que a sua imensa capacidade de criar era algo inato á sua pessoa.
Ouvimos várias vezes durante a noite esse especial cd: Elis Regina, ao vivo, no Festival de Montreux de setenta e oito... Simplesmente magnífico.
Tornámo-nos amigos do casal passamos muitas noites, jogando buraco e tomando bons vinhos nos nossos respectivos lares.
Daniela Brugni (era modelo) tinha uma filha com Bruno, chamada de Giulia, afeiçoamo-nos imenso a essa criança de dezoito meses, mas que parecia uma adulta.
Questionava tudo e todos, era impressionante a facilidade de comunicação, em tão tenra idade.
Bruno viveu no Rio de Janeiro nos finais da década de oitenta e ficou imbuído do espírito Rock and Roll latente. Conheceu e conviveu com Cazuza e todos da sua geração.
Da sua cabeça saem constantemente criações inusitadas que se tornam realidade.
É um pensador nato de rara subtileza e inteligência.