quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Vigésima Oitava Dose de Pílulas do Livro...

A freqüência do restaurante e de nomes sonantes mantinha-se quase que diariamente e sempre que viessem a Salvador, Arnaldo Antunes, Vanessa da Mata, Rita Lee, Zélia Duncan, Chico Cesar, Marcos Paulo, Milton Nascimento, Paulo Jobim, Paulo Braga, Carlinhos Brown, Adriana Esteves, Elba Ramalho, Lulu Santos, Taís Araujo, Lázaro Ramos, Wagner Moura, José Carlos Aleluia, ACM Neto, Caio Blatt, Eliana e muitos outros que prestigiavam a nossa culinária e o nosso espaço com a sua estimada e dignificante presença.

Aproximava-se a festa do Rio Vermelho estruturei e preparei um enorme evento que se realizaria no dia dois de Fevereiro.
Arranjei alguns patrocinadores de peso, Dinners Club, Martha Paiva, Chandon, Hagen Daas e outros tantos.
O sempre amigo Bel Borba criou uns azulejos, dez para serem sorteados. “Com o apoio do Dinners Club e da Redecard, construímos um palco de madeira para o evento, onde cantaria a artista ‘Mariene de Castro”, chamamos de São Paulo a modelo baiana negra “Rojane Fradique” que vestiu uma peça propositadamente criada pela grife “Martha Paiva” e que simbolizaria a nossa Yemanjá.

A feijoada estava montada.

Por volta do meio dia começamos a servir os nossos convidados que iam chegando pouco a pouco. Por volta das três da tarde, não cabia mais ninguém dentro do nosso espaço, estávamos com dificuldades, para limitar a entrada de algumas pessoas, que não tinham camiseta, mas que eram conhecidos ou amigos.

Não pensamos que ficasse tão cheio.

Eu tinha combinado com os garçons que o Espumante e o Sorvete seriam servidos ao mesmo tempo, a partir de meio do show da Mariene de Castro, antes servir-se-ia o costume em todas as festas.
O sorteio dos azulejos de Bel foi feito, chamado ao palco, tive de dizer algumas palavras, perante todos os convidados, agradecendo o apoio de todos os patrocinadores.
A festa estava super animada, já se comentava que há imenso tempo não havia algo parecido.
Tinha ido ao aeroporto durante a manhã, buscar Rojane Fradique, que estava hospedada no Hotel Pestana.

Rojane entrou, desceu as escadas, vestida de longo azul, estava deslumbrante a nossa Yemanjá negra e Baiana.
Os jornalistas presentes aproveitaram o momento para tirar as fotos todas.
Por volta das cinco e meia da tarde, começou o Show de Mariene de Castro, Mariene tem uma voz maravilhosa e o seu repertório baseia-se nos sambas de roda do recôncavo baiano.
No palco ela cresce imenso, parece que tem o dobro da altura, é realmente uma sensação de energia coletiva que esta artista baiana transmite nos seus shows.
Naquele dia ela estava com um vestido branco, rodado e todo bordado, criado pelos estilistas Soudam & Kavesky, nos braços várias pulseiras.

Desceu a escada cantando no meio das pessoas, com o seu sorriso de menina môça do recôncavo baiano.
Era casada com Jota Velloso (sempre carinhoso amigo), sobrinho de Caetano e de Bethânia, cantor, compositor e poeta de Santo Amaro.
Mariene tomou conta do ambiente, ninguém ficava parado, a voz dela é elevada, canta gesticulando, fazia lembrar-me um pouco a falecida Clara Nunes, estavam vários artistas presentes, assistindo ao show e participando da festa, lembro-me do meu amigo, ”Altay Veloso” que veio propositadamente do Rio de Janeiro, (grande compositor brasileiro que compôs a primeira opera negra da história musical do Brasil Alabê de Jerusalém, e que tive a honra de ser convidado para a pré-estréia no Canecão).
Estavam todos os presentes homenageando-me, até tinha vindo Ivan Trilha e a Presidente do Banco Rural Kátia Rabello.
Começaram a servir o espumante brut e rosê juntamente com o sorvete, que chique...
Mariene de Castro descia ás vezes do palco e sambava com os convidados, todos tentavam acompanhar o seu ritmo, havia duas pessoas especialmente animadas naquele momento, dancavam lindamente, a sobrinha Carla e a tia Denise. A festa terminou lá pelas onze horas da noite, lembro-me que ainda fomos para casa de Filomena Moura.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Vigésima Sétima Dose de Pílulas do Livro...

O segundo passo e também imediato seria mudar tudo o que tivesse o nome do anterior restaurante; Cardápios, Aventais, Totem, Site, Cartões, Folders, Publicidade, Divulgação, etc.
O terceiro passo urgente a ser tomado era introduzir uma nova culinária que contemplasse novas opções de escolha para o cliente.
A culinária anterior mantinha-se com substanciais alterações.
Retiramos com a concordância da nossa Chef Maria de Lourdes, que agora tinha a responsabilidade total da culinária, alguns itens do cardápio, que eram difíceis de encontrar.
Fizemos também alterações nas moquecas, tornando-as mais simples sem alguns dos produtos que Beto utilizava.
Criamos algumas sobremesas, que se tornaram sucesso, como Mousse de Cupuaçu com Calda de Frutas Vermelhas, ou a nossa Mousse de Chocolate com Coco Verde.
Retiramos a travessa de frutas oferecidas aos clientes e introduzimos alguns pratos da culinária Portuguesa.
Para o efeito dirigi-me algumas vezes a Itaparica, onde passava normalmente e sempre que podia os meus finais de semana e comecei a observar um Português que habitava por lá e trabalhava numa pousada de um Alemão. Bel chamou-me a atenção para o cozinheiro Paulo Jorge...

Fazia um bacalhau no forno gratinado chamado de Zé do Pipo, uma verdadeira delicia...

Conversei longamente com o Paulo Jorge e contratei a sua consultoria e assessoria por dois meses, tempo suficiente para ele preparar os novos pratos e ensiná-los aos cozinheiros e principalmente á Chef Maria de Lourdes. Adequamos os utensílios á nova culinária, adquirimos um forno rápido e criamos outras iguarias.

Bacalhau no Forno regado a Azeite de Oliva e acompanhado de Batatas ao Murro, Arroz de Polvo e Marisco (que era o melhor arroz de polvo de toda a Bahia, de acordo com os nossos clientes, que vinham de outras cidades do estado), Chouriço Assado na Brasa na mesa em frente ao cliente (para o efeito mandamos fazer vários assadores de barro para o chouriço), no fundo internacionalizamos a culinária.

Expliquei ao grupo de colaboradores que de comum acordo os dois restaurantes estavam a seguir rumos diferentes, na tentativa de viabilizar ambos os projetos.
A quarta alteração teria de ser através da imprensa.
Marquei uma reunião com a Assessoria e solicitei que convidassem alguns jornalistas e formadores de opinião para o “País Tropical” apresentar a nova face do restaurante.
Tinha havido uma reestruturação gastronômica, seria necessário dar a conhecer a nova faceta, através de um jantar.
A reestruturação do País Tropical tinha dado os seus frutos e o movimento no Rio Vermelho continuava dentro da normalidade, claro que tivemos de fazer alguns investimentos em divulgação, até porque os que existiam eram anteriores á reestruturação.
Todos os clientes perguntavam o porquê da mudança do nome! Sempre respondíamos com o máximo rigor e zelo. Tínhamos seguido caminhos diferentes, mas com um único objetivo; viabilizar ambos os projetos.
Somente isto...
Contratamos uma empresa de Salvador para fazer um estudo rigoroso de viabilidade financeira e consultoria.
Deveria ter sido feito no inicio, em Abril de dois mil e quatro...
Foram detectadas algumas incongruências, algumas irregularidades.
Fez-se a ficha técnica de todos os pratos, mediram-se produto a produto, item por item, e conseguiu-se o custo de tudo o que se vendia no restaurante. Fizeram-se algumas alterações mediante o estudo terminado.
Tardias talvez...

Finalzinho do ano de dois mil e cinco. Esse Réveillon passamo-lo em Itaparica, na praia com a companhia de Bel, Bruno e Daniela, a linda Giulia e mais dois casais de amigos, tomando o banho da meia noite, bebendo Champagne e pedindo aos deuses que nos dessem saúde, paz, harmonia e muito amor nos nossos corações.
Noite diferente, talvez porque fosse a última desse ano repleto de imensas alegrias e algumas desilusões que nos faziam refletir sobre o dia de amanhã... E o amanhã era ali logo de seguida...
Interessante,deveras intrigante.
Momento espontâneo, milésimo de segundo e estávamos em Dois Mil e Seis como se de uma barreira se tratasse, será que o tempo pode ser ultrapassado numa correria desenfreada.
E a busca desse novo horário temporal, mudaria as nossas vidas...?




segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Vigésima Sexta Dose de Pílulas do Livro...

Mas a grande paixão de Carlos Vasconcelos era o amor mais proibido de toda a historia de Portugal ao longo dos séculos.

Sentia-se o interesse com que contava a história de “Inês de Castro e do Príncipe D. Pedro”.

-Segundo a lenda - dizia Carlos - Inês de Castro conheceu D. Pedro nos Paços Reais em Coimbra, onde hoje fica a universidade.
A sua beleza fez com que o Príncipe herdeiro se apaixonasse de imediato.
Inês vivia no Convento de Santa Clara-a-Velha e era nesse local que recebia as cartas proibidas de Pedro.
As difíceis relações entre o reino de Portugal e Castela haviam de originar um final trágico para essa história de amor que permanece até aos dias de hoje.

- Neste momento o nosso amigo Português, franzia a testa, como que se preparando, para contar o desfecho.
- No inicio de Janeiro de mil trezentos e cinqüenta e cinco D. Afonso IV, pai do Príncipe Herdeiro, decide mandar matar Inês de Castro.
Ela é assassinada em sete de Janeiro do mesmo ano, no Paço de Santa Clara.

Passados dois anos, D. Pedro é coroado Rei de Portugal e o seu grande objetivo, foi elevar Inês de Castro a Rainha de Portugal e desafiar toda a eternidade com o grande amor que viveu...

Carlos Vasconcelos era um romântico por excelência...

Decidimos em Setembro viajar para Portugal aproveitando o finalzinho do verão e descansarmos um pouco desta movimentação.
Estávamos a precisar relaxar a tensão provocada por sucessivas e conturbadas questões de sociedade.
No inicio ficaríamos duas semanas em Lisboa e depois regressaríamos o negócio assim o exigia.

Tivemos de regressar antes do previsto.
Problemas no restaurante.
Voltei, conversamos longamente e decidimos separar os negócios.
Tudo foi efetuado da minha parte, com a maior das tranqüilidades e civismo.
Fiquei muito triste com o que estava a acontecer.
O desgaste tinha sido enorme, para todos nós envolvidos neste projeto desde o primeiro dia.
A situação estava bastante tensa, mas controlada, a culpabilidade existia dos dois lados, é difícil errar sozinho, eu reconhecia alguns excessos e atitudes mal tomadas, tudo fiz para que todo o projeto continuasse por tempo indeterminado, mas o destino assim o quis, e a separação foi inevitável.
Que pena, diziam todos os que circulavam ao nosso redor,
Vocês faziam uma equipe de alto nível, afirmavam isso nunca era para acontecer...

O que fazer agora? Perguntava a mim mesmo, mas não obtinha resposta rápida...
Amigos conhecidos e freqüentadores do espaço opinaram sobre as alterações que deveriam acontecer com a maior urgência possível.
Mudanças, claro, mas que tipo de mudanças!

Devo confessar que passei longas noites em claro sem conseguir sequer dormir nem descansar o suficiente. Carla estava preocupadíssima e eu haveria de arranjar uma solução...
Dificuldades existem para as ultrapassarmos, pensava eu, nas longas noites revirando de um lado para o outro. Ouvi muito atenciosamente, um ou dois amigos mais íntimos, a quem devia a maior consideração e atenção, pois sempre foram pessoas de extrema confiança.
A primeira coisa a ser feita, era mudar o nome do restaurante, consultamos algumas empresas de registro de patentes e decidimos por País Tropical.
Assim foi feito...
O nome passaria para “País Tropical”.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Vigésima Quinta Dose de Pílulas do Livro...

- Ricardo precisava da tua ajuda, queria organizar um desfile de moda, com alguns modelos para apresentação á imprensa especializada da minha coleção.
- Em que moldes? Perguntei. Quem fará a produção?
Carla já tinha tudo pensado.
O desfile foi um sucesso.
Pelas escadas foi montado todo um aparato estético/decorativo que resultou para a nova designer de acessórios de moda, numa noite triunfante.
Os seus colares e pulseiras seriam escolhidos pelos estilistas Soudam & Kaveski para desfilarem na passarela no Barra Fashion desse ano.

Eu refletia... Naquela casa, naquele espaço, tudo seria possível de acontecer. Não era um simples lugar de gastronomia.
Local de encontro de gentes, de prosas, de cultura, de artes visuais, de moda, de músicos e de música... Das mais variadas expressões artísticas.

Ed Motta é um apaixonado pela enólogia e gastronomia para além de músico de excelente qualidade.
Adorava sentar-se para almoçar na companhia da sua Edna e experimentar alguns pratos da nossa culinária.
Troquei com ele alguns conhecimentos sobre gastronomia portuguesa e enologia de Portugal.
Perdiamos-nos pelas tardes de Salvador, sentados, em longas conversas sobre nomes de vinhos, castas e anos de fabricação...
Exímio conhecedor de bons vinhos Portugueses e não só, confidenciou-me que tem um grupo no Rio de Janeiro, que se encontram periodicamente para tomar vinhos escolhidos a dedo.
Em Lisboa para onde vai todos os anos, conheceu uns patrícios, de quem se tornou amigo, que são proprietários de um restaurante num bairro que se chama Benfica, que dão a conhecer, algumas relíquias da culinária Portuguesa, Acorda de Marisco, Pataniscas de Bacalhau com Arroz de Grelos, Bacalhau á Lagareiro, Cabrito Assado no Forno com Batatas ao Murro, regados com bons vinhos tintos e brancos lá da terrinha; os seus olhos ficavam ainda mais regalados e abertos quando falava da culinária e dos vinhos que partilhava com os seus amigos de Portugal.

Clientes de várias nacionalidades freqüentavam o restaurante, principalmente Portuguesa vinham indicados pelo Hotel Pestana que ficava sito no Rio Vermelho, próximo ao Restaurante.
Perguntavam por mim aos colaboradores, queríamos falar com o Ricardo Alves, eu aparecia e por vezes fazíamos amizade.

Carlos Vasconcelos de seu nome, Português de Coimbra a capital do fado de capa e batina, o fado dos estudantes universitários, tornou-se meu amigo.
Passava por Salvador em negócios e viajava para outras capitais Brasileiras.
Mesmo que só ficasse um dia em Salvador, nunca deixava de me visitar e isso me honrava muito.
Adorava conversar, contar histórias e saber novidades. Era sedento por informação.
Homem de negócios, engenheiro agrônomo de formação, vinha ao Brasil visitar as suas fazendas um pouco espalhadas por este imenso e grandioso país.
Adorava falar da sua Coimbra, dos seus encantos, da sua rica e imensa história.
Dissertava sobre a medieval imponência da Sé Velha, dos traços Manuelinos existentes na Igreja do Mosteiro de Santa Cruz, das memórias árabes, cristãs e judaicas de séculos, que Fernando Martins de Bulhões (Santo António) – viveu em Coimbra na hoje igreja de Santo António dos Olivais, da Universidade de Coimbra fundada pelo Rei D. Diniz em mil duzentos e noventa, da Biblioteca Joanina em estilo barroco, construída no Reinado de D.João V, uma série de conhecimentos e informações sobre a cidade onde tinha nascido e crescido...