Propus-me dignificar, acrescentar, ao que de bom já existia há longos anos, a intenção sempre foi melhorar. Talvez por isso abraçasse tudo, com tanta paixão.
Durante a reforma num dia pela tarde, estavam os operários a trabalhar na varanda, (área externa) onde existia uma parede toda pintados de branco, e ficava o candeeiro de “Mário Cravo Jr.” qual não é o meu espanto, quando observo que por baixo da tinta, existia uma parede de azulejos Portugueses de tonalidade azul e branca da década de cinqüenta. Aquela descoberta tornou-se um dos ex-líbris do restaurante.
A história da casa mistura-se com a do Rio Vermelho, bairro boêmio, onde viveram durante anos, “Jorge Amado” e a sua eterna companheira “Zélia Gattai”.
A estrutura da casa foi levantada por um dos maiores artistas plásticos da sua geração “Carybé”, amigo intimo de “Jorge Amado” que queria construir a sua residência e atelier naquele espaço.
Por motivos desconhecidos “Carybé” não acabou a construção da casa e vendeu-a para a família Ferraz, que edificou o espaço e viveu lá por mais de quarenta anos, até Paulo Mota a adquirir.
Algumas semanas poucas para a inauguração.
Previsão inicio da segunda quinzena do mês de Abril.
Muita coisa para fazer e tudo ao mesmo tempo.
As psicólogas tinham selecionado mais ou menos noventa hipotéticos colaboradores para serem entrevistados. Formatamos de acordo com diretrizes do mestre, uma estrutura que fosse viável, tendo em consideração os condicionalismos e as características da gastronomia experimental de Beto.
Passamos algumas horas entrevistando os selecionados e escolhemos cerca de trinta colaboradores, para fazerem parte do novo Paraíso Tropical.
Uma agitação.
A filial do Rio Vermelho funcionaria nos mesmos moldes da matriz, ininterruptamente em dois turnos. Tanto os garçons, que inicialmente eram dezasseis, como o pessoal da cozinha em número de dez, estiveram uns dias no Cabula em formação a fim de beberem toda a informação necessária e adequada.
Lara Nepomuceno – criadora de moda – desenhou as roupas de todos os colaboradores.
Os garçons e os maitres vestiam uma calça castanha clara com bolsos laterais, calcavam umas sandálias também castanhas, fechadas á frente e as camisetas eram de manga curta em várias cores, de acordo com o dia da semana. Por cima colocavam um avental azul claro lindíssimo, amarrado á cintura e ao pescoço, com a logomarca do restaurante estampada na parte da frente, o Galo rodeado com as cores do sol, céu, terra e mar (que os clientes adoravam). Os cardápios eram vermelho tinto e amarelo torrado de papel reciclado grosso.
Informatizamos todo o restaurante e codificamos todos os produtos, tentei que o mesmo fosse feito no Cabula, mas o mestre apesar de mostrar interesse, nunca efetivou a sua vontade.
A casa era rodeada de um passeio, que já tinha sido calcada Portuguesa e que estava completamente estragada, sem as pedras nem os desenhos simbólicos.
Infelizmente tinha de gastar mais alguma verba e não era pouco, na reconstrução de todo o passeio. A praça em frente á casa estava um verdadeiro caos, não podia inaugurar o Restaurante sem contratar o serviço de alguém, para pelo menos, cortar aquele capim e mato, que cobria toda a área.
Não era minha obrigação, mas já que ninguém o fazia eu teria de fazê-lo.
Estava quase tudo a postos, parte final.
Segurança vinte e quatro horas e manobrista no horário de maior movimento.
Contratação de mídia – televisão, jornais revistas, folders e outdoors de rua.
Imprensa escrita, dizia respeito á Via Press.
Comprei por sugestão e aconselhamento, dois espaços em programas de televisão que cobriam eventos e que obtinham boa audiência, junto ao público que pretendíamos alcançar, Michele Marie e Tom Mercury.
Selecionamos um fotógrafo, sugestão da nossa agência de publicidade e fomos até ao Cabula com uma equipe, filmar e fotografar, todo o tipo de imagens relacionadas com frutas e pratos, para que pudéssemos escolher como ficariam os folders e os seis outdoors que iriam para a rua.
O resultado foram materiais de alta qualidade gráfica e de imagem.
Haveria duas inaugurações: dia dezanove de Abril, para a imprensa e dia Vinte e um de Abril para convidados.
A idéia dos publicitários era criar um impacto com os outdoors espalhados pela cidade de Salvador.
Far-se-ia do seguinte modo: Na primeira semana ficariam os outdoors na rua com uma pergunta; Já conhecem o Cambucá? Já ouviram falar do bacupari? Já provaram o Ingá? (todas, frutas exóticas).
Nas duas semanas que antecediam a inauguração aparecia a logomarca com o Galo e o nome do Restaurante Paraíso Tropical dizendo: Se não conhecem, então venham conhecer a filial do Paraíso no Rio Vermelho; Se um Paraíso é bom, dois melhor ainda. Por baixo o endereço e o telefone dos dois Restaurantes, com a indicação da matriz e da filial, que abria ao público.
Toda a imprensa Baiana estava presente em peso, no dia dezanove de Abril, na pré-abertura.
Dois dias depois e eis chegado o momento das nossas vidas.
Todo o mailing de convidados tinha sido feito por D. Licia Fábio, só ela poderia ter reunido tantas pessoas num mesmo espaço, numa só noite.
Uma única palavra... Deslumbrante.