quarta-feira, 21 de julho de 2010

Terceira Dose de Pílulas do Livro...

Em vinte e cinco de Abril de mil novecentos e setenta e quatro, deu-se uma revolução em Portugal, revolução pacífica – chamada de revolução dos cravos – ela acontece devido ao descontentamento de um pequeno grupo de oficiais do exército Português (movimento dos capitães de Abril) que descontentes com a sua situação, resolvem tomar o poder.

A mudança política e social em Portugal desencadeia o que já se espera á bastante tempo – a descolonização dos países africanos de expressão portuguesa – Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.
Eu fui para Portugal com os meus pais em Outubro de mil novecentos e setenta e cinco, com nove anos de idade.
Toda a minha formação e todo o meu crescimento foram passados em Lisboa.
Foi em Lisboa, que fui adolescente, que me formei e aprendi a ser homem a ser marido e por último pai.

Foi em Portugal que aprendi a amar e ser amado...

Lisboa a cidade das sete colinas.
A história confunde-se com a própria vida das pessoas e Lisboa tem essa capacidade de fazer que constantemente nos lembremos dela – cidade. Bairro alto, Mouraria, Madragoa, Alfama – bairros típicos que por si só são a história desta cidade cheia de luz, cidade branca, banhada pelo rio Tejo – e que tantas vezes foi cantada através dos poetas.
Cidade dos poetas – cidade do FADO – cidade de Santo António (que nasceu em Lisboa no bairro da graça e não em Pádua, como muitos querem fazer crer) Cidade dos Fados/Destinos – Capital do grande império que foi Portugal, país á beira mar plantado que um dia ousou conquistar os mares e desafiar os velhos do Restelo.
Cresci, nessa mudança política constante entre a esquerda e a direita – entre o socialismo e a chamada socialdemocracia que afinal não é mais que um neoliberalismo/ ou capitalismo camuflado. Durante muitos anos o rumo do país parecia descambar para um precipício (como disse um dia "João Alves da Costa” um manicômio em auto-gestão” exagero ou não um célebre dia de mil novecentos e oitenta e cinco, no Mosteiro dos Jerónimos, em Belém – foi assinado o tratado de adesão de Portugal á Comunidade Econômica Européia.

Comunidade Econômica Européia! Perguntávamos nós, o que é isso, será que o país vai beneficiar também no aspecto social!
Diga-se de passagem, que todas as pessoas que me conhecem, sabem bem que eu sempre fui um céptico em relação aos objetivos finais da CEE, como era conhecida a sigla.
A adesão de Portugal foi efetuada em três fases, na primeira fase o objetivo era uma união agrícola – uniformização dos processos agrícolas dos doze países (na altura) pertencentes á CEE.
Na segunda fase, uma união econômica – critérios de convergência econômicos, moeda única Euro e uma terceira fase que levanta e levantará mais polêmica ao longo dos anos que é a união política, fazer uma confederação de estados europeus – naturalmente que para nós estudantes universitários e jovens irreverentes e contestatários, isto tudo nos cheirava a esturro. Eu viria a ter razão.
Claro que com a quantidade de dinheiro enviado a fundo perdido, os governos foram ao longo dos anos, construindo estradas, hospitais, escolas e camuflando um pouco as questões sociais, desemprego, baixos ordenados, custo dos produtos essenciais muito elevados, preço da habitação super inflacionado, custo dos transportes, gasolina a um preço exorbitante, a mais cara da Europa, impostos elevadíssimos – claro que a comunidade européia tinha um preço e nós estávamos a começar a pagar por esse preço de uma forma muito elevada.
Portugal praticamente importa tudo, excetuando alguns bens de consumo de primeira necessidade.
O país produz vinho, azeite e cortiça, a indústria salvo raras exceções, não se preparou convenientemente para a competitividade que aí vinha. Os mais preparados tomariam conta do mercado.
A salvação era o turismo, devido ao litoral que Portugal detém e também por causa do clima ameno existente, em comparação com outros países da Europa. Mas nem no turismo se conseguiu atingir os objetivos a que se propunham.
Os nossos vizinhos espanhóis, melhor preparados começaram a tomar conta de alguns sectores da economia portuguesa e aproveitando o espaço econômico livre, sem restrições, foram aos poucos comprando o que de melhor havia no país. As multinacionais de grandes empresas mundiais que tinham sede em Lisboa e no Porto foram fechando e transferindo-as para Madrid – a nova capital da península ibérica.

Não querendo ser muito céptico Portugal transformou-se num país de serviços...
A população inicialmente sentia-se indignada, depois quase que atraiçoada e finalmente angustiada.

– É o fado / destino dos portugueses...!

A melancolia dava lugar á alegria e á satisfação, as pessoas deixaram de ter poder de compra e refugiavam-se nas suas casas, a taxa de endividamento bancário é muito elevada no país, à população trabalha para pagar o empréstimo da casa durante trinta anos e o carro durante cinco anos, com os ordenados mais baixos da Europa e com a carga tributária mais elevada o português tornou-se angustiado e com a entrada do Euro (moeda única) a situação agravou-se ainda mais, porque os bens de consumo ficaram todos mais caros.
O português com as regras impostas por Bruxelas - economicistas e tecnocráticas tornou-se mais solitário, só pensando em si próprio e não tendo tempo sequer para a família quanto mais para os seus amigos e conterrâneos é o sistema capitalista funcionando da forma mais atroz.

Esta é a essência do Portugal que eu conheço e vivi até bem pouco tempo atrás.
Não gosto deste Portugal, queria aquele Portugal humano, social e tranqüilo onde as pessoas se cumprimentavam na rua sem estarem preocupadas se terão dinheiro para pagar a renda da casa e a prestação do carro (porque os juros vão subir) e iam á padaria comprar pão feito no forno á lenha, sem pensarem em abastecer o carro hoje, (porque amanhã a gasolina aumentará outra vez).

Que saudades do Portugal Português de todos nós e que indiferença ao Portugal Pseudo Europeu... De alguns; muito poucos.

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