O mês de Novembro estava a chegar ao fim, o verão de Salvador irradiava energia de todos os lados.
Não somente o sol aquecia a cidade, mas o constante reboliço das pessoas procurando divertir-se.
Festas, shows, eventos, praias, este é o quotidiano das gentes de Salvador e dos visitantes durante os meses de verão.
No cheiro sobressai o acarajé e o abará espalhado pelos muitos cantos desta cidade, pelas mãos das mulheres tradicionalmente vestidas com os seus trajes brancos - As Baianas...
Eu fazia parte desse imenso reboliço, não só pelo frenesi dos meus dias de trabalho, mas também pela necessidade de me inteirar de tudo o que se passava em Salvador, afinal de contas, tinha em mãos um ótimo projeto.
Quem se encarregava de nos apresentar á sociedade baiana e Brasileira era a nossa madrinha (como chamavam alguns, que denotavam certo ciúme) que nunca se esquecia de nos convidar para os eventos que tão bem organizava.
Fiquem sempre que possível junto de mim, dizia a nossa benfeitora e assim íamos conhecendo, muitas pessoas que seriam nossos possíveis clientes.
Formadores de opinião de todo o Brasil e não só.
Licia ficava sempre sentada, em local estratégico, para que pudesse ter uma visão global daquilo que se passava ao seu redor.
Fumando o seu charuto “Le Cigar” – robusto, cumprimentava gentilmente os convidados, que se lhe dirigiam – aproveitava o ensejo e apresentava-nos com muito rigor – Ricardo é Português e genro de Beto, vai abrir com o sogro uma filial do Paraíso Tropical – os convidados logo se interessam pela notícia, o que normalmente resultava num dialogo mais longo.
Aos poucos a notícia foi-se espalhando... Estava dada a partida, como seria o trajeto.
Tudo acontecia muito rápido.
Uma das características da Bahia é a rapidez com que as coisas acontecem e o reflexo que isso trás para as nossas vidas.
É preciso saber dirigir canalizar toda essa alta voltagem, com calma com tranqüilidade.
Hoje sei disso, na altura não tinha a noção da força energética em que estava envolvido.
Tudo era de uma intensidade enorme, o envolvimento torna-se um abraço gigantesco de grandes proporções e eu tinha destapado a tampa de uma imensa panela e não sabia como misturar os condimentos que tinha em mãos.
Resolvemos casar no civil no dia onze de dezembro de dois mil e três. A cerimônia foi rápida e simples, pela manha, no fórum de Salvador, e á noite fizemos uma pequena confraternização com alguns amigos e família.
O momento não era para grandes gastos e a nossa energia estava canalizada num único objetivo.
Sempre que possível aos finais de semana tomava o rumo da estrada, algures para a praia do forte ou Bom Jesus dos Pobres, onde a família possuía uma fazenda, aproveitando os poucos momentos de disponibilidade.
O mar de Bom Jesus dos Pobres não tem ondas é surpreendente a calma do lugar. Colocávamos umas mesas e umas cadeiras dentro da água e lá ficávamos horas a conversar a comer e a beber, até o sol dizer adeus, até amanhã...
O palmito que se utilizava na culinária do paraíso, vem da fazenda, como o preguari e o siri mole. Para utilizar o palmito da árvore, tem de se retirar o olho da palmeira e ao fazê-lo ela morre. Sabendo disso, o mestre dava ordens constantes ao caseiro para replantar e assim evitar o desaparecimento das palmeiras que dão origem ao palmito.
Vinte e quatro de dezembro de dois mil e três, primeiro Natal no Brasil e longe da minha família. Lá vem aquela palavra que só existe em Português e que ás vezes nos persegue e quase tritura a nossa mente.
Em família ficamos nós a época natalina. Muito calor e eu não estava habituado.
Tomei uns ótimos vinhos Portugueses com um tio da minha mulher, que era apaixonado assim como eu, por vinho.
Encontrei um parceiro, pensava eu.
Réveillon fomos para a Marina – Licia organizava uma festa grandiosa, onde convidava alguns globais, compramos uma mesa e com amigos e família, assistimos o nascer do ano de dois mil e quatro.
Abraçamo-nos fortemente durante alguns segundos, bastantes.
O pensamento estava no futuro que vinha a passos largos. Incertezas algumas, definições muitas. Novo ano...
As obras não decorriam como se esperava os problemas e os atrasos resultantes criavam em mim um stress latente... Não estava a gostar do desenrolar da reforma.
O indivíduo contratado e já devidamente remunerado, não apresentava soluções viáveis para as eventualidades que surgiam a cada pedra derrubada.
O tempo corria e não esperava. A verba inicialmente prevista, quase dobrou, estava a ficar deveras preocupado.
O contratado era pessoa talentosa, mas desorganizada e vim a notar que lhe faltava estrutura profissional e organizativa, falhava constantemente aos encontros e reuniões agendadas ou então marcava ás nove da manhã e chegava ás onze horas. Isso me deixava fora de mim. A minha mulher também preocupada, tentava acalmar os ânimos e várias vezes dizia para eu relaxar. Como podia relaxar com o dinheiro investido as obras atrasadas e a verba duplicada. Tentava...
O objetivo era aproveitar o verão...
O indivíduo contratado por nós para liderar todo o processo, desde o projeto até á decoração final, tinha Sub-Contratado uma firma de dois engenheiros civis, super competentes e profissionais que tentavam a todo custo resolver as situações prementes.
Mas a decisão final era sempre do responsável por nós escolhido.
Haveria outro problema a resolver e que me tirava o sono.
O alvará de funcionamento do restaurante.
Tínhamos em nosso poder a autorização da reforma que estava acontecendo, mas faltava a autorização para o Restaurante funcionar, quando estivesse tudo pronto.
O pai da minha esposa estava preocupadíssimo com essa questão e tinha feito uns contatos para tentar a obtenção do documento.
Não foi possível, já que havia certa resistência por parte do responsável do órgão emitente da autorização. Fizemos algumas petições por escrito, demonstrando o interesse para a cidade da abertura de um espaço de culinária baiana de qualidade e diferenciado. Vinha indeferido. Não compreendíamos porquê, já que perto de nós, havia várias casas comerciais abertas e funcionando dentro da normalidade exigida pela lei.
Tiramos algumas fotos que levamos ao responsável do órgão competente, mostrando a existência de restaurantes perto da Rua Feira de Santana. Indeferido...!
O que fazer! Não podia parar as obras... Significava dinheiro perdido, deitado fora. Decidimos em conjunto, continuar.
Nunca entendi essa relutância conosco. Essa dificuldade...!
Através de muitas insistências e alguns contatos, finalmente conseguimos o alvará de funcionamento.
O meu sono melhorou um pouco, mas só mesmo pouco. Outras vicissitudes me aguardavam.
Finalzinho de Janeiro eu tinha um sonho e acreditava que era verossímil. Abrir as portas uns dias antes do carnaval.
Previsões, finais de Março, começo de Abril.
Dia dois de Fevereiro, milhares de pessoas se dirigem ao Rio Vermelho e fazem as suas oferendas à Rainha dos Mares “Yemanjá” é o sincretismo religioso de mãos dadas com as tradições desta cidade “D Oxum”.
Festa popular pronuncio de mais um carnaval que se aproxima.
Seria diferente dos outros que eu tinha presenciado, quando ainda morava na cidade dos Alfacinhas.
Tivemos a chance de passar todos os dias da festa, no camarote de Daniela Mercury, criado e organizado por Licia Fábio, desde mil novecentos e noventa e cinco.
É um desfile de gente bonita de sexta a Terça-Feira.
- De certa forma, o nosso momento tinha chegado.
Apresentados a todos os que faziam parte, desse movimento contínuo de que tudo é novo e tudo é belo – Claro que não é bem assim –
O que me interessava chamava-se conhecimento e comunicabilidade.
Fotos atrás de fotos, algumas entrevistas breves, para sites e órgão de comunicação social. Carla irradiava beleza e simpatia e eu me sentia o Ricardo filho do Roldão e da Zita.
Com todas as pessoas que conversava, abordava sempre a criação do espaço e da maravilhosa e inovadora, culinária do grande “Chef Beto”.
O objetivo de toda a minha política empresarial e de negócio, sempre foi o investimento e a divulgação da pessoa e da imagem do mestre Beto.
Desde o dia em que me convidou para ser seu sócio, dirigi todas as minhas energias no engrandecimento pessoal e profissional do homem.
Tudo fiz nesse sentido...
Necessitávamos de trabalhar a imagem do “Chef Beto”, torná-la mais profissional e objetiva.
Então contratamos os serviços da Via Press, sem dúvida na altura a melhor Assessoria de Imprensa da Bahia. Vários profissionais colaboraram conosco, ressalvo Elaine Hazim e Jamil.
O papel da assessoria de imprensa foi primordial no lançamento do novo projeto e também na valorização do trabalho e imagem do mestre, do criador desta gastronomia, que se pretendia internacional.
Trabalhamos juntos e com afinco.
Atingiram-se os nossos objetivos? Boa pergunta! Não sei...
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