sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Vigésima Quarta Dose de Pílulas do Livro...

Na lateral direita da casa existia uma área afastada e que ficava isolada do resto do restaurante.
Por sugestão de alguns clientes e amigos, mas fundamentalmente de Ivan Trilha, decidimos aproveitar o espaço e torná-lo área vip.
Pedi ao meu estimado amigo Bel Borba que pensasse em algo para dar maior vivacidade aos metros quadrados existentes.
A meio havia uma palmeira. Então pensamos no seguinte:
Rodear a palmeira com uma mesa redonda de madeira, feita para o efeito.
Colocar no chão calçada portuguesa que já existia no perímetro externo da casa e fazer um pequeno paisagismo, semelhante ao do pergolado e amendoeira.

Mas faltava o mais importante, dar vida ás paredes que rodeavam esta pequena praça.
Então o artista visual Bel Borba, uma das maiores individualidades brasileiras e mundiais em mosaicos, resolveu o problema com a sua mestria e objetividade.

Criou por toda a parede lateral, várias figuras em mosaico branco, como se fossem os guardiões daquele espaço.
A parede tinha ganhado movimento com a presença daqueles pequenos guardiões, alguns com as suas espadas ou com as pequenas lanças em suas mãos, apontando para algum lugar, como que tentando dizer que eles eram os soldadinhos, colocados ali, para proteger a praça.

A praça homenageava Licia Fábio nossa mentora desde o primeiro segundo, por isso na outra parede Bel criou um painel em mosaicos pintados em azul e branco, ilustrando o momento.
Inauguramos a Praça com pompa e circunstância na presença de amigos e imprensa.
O espaço ficou na memória de todos os que por lá passavam, Licia jantava algumas vezes na praça com o seu nome, tinha-se tornado o seu local predileto.
Com um novo espaço dentro do restaurante as opções para eventos tornavam-se melhores.
Aquela área só podia ser aberta ou para jantares com um numero certo de clientes ou para eventos que justificassem a deslocação de colaboradores agregados somente aquele espaço.
Muitos clientes queriam jantar ali, já que durante o dia o calor não permitia a permanência de ninguém e não havia qualquer cobertura, era a céu aberto e em dias de lua cheia, a beleza prevalecia.
Os garçons estavam instruídos a mostrar aos visitantes o novo espaço, servia como visita turística pelas obras vivas que Borba implementara, aproveitavam para tirar fotos e levar consigo de regresso aos seus lares.
A estética e a beleza misturavam-se, naquele pequeno espaço, de lazer gastronômico.
O templo expandia-se com outras mensagens vivas e atuantes...
Bendita seja a criatividade do ser humano, sem ela tudo seria obviamente chato e monótono, as experiências acumulam-se ao nosso redor transportando-nos para lugares imaginados.

Assessoria de Imprensa ajuda a gerar noticias a exp.: lançamento de um novo prato, visita de algum global ao restaurante, jantares promocionais.
Para conseguir-se a divulgação da marca, tem de se estar sempre a trabalhar nos bastidores, para que as novidades surjam e possam ser publicadas.
Um dos meus papeis era esse.
Articular com os nossos assessores de imprensa formas de divulgação do Restaurante Paraíso Tropical quer da gastronomia assim como da imagem do mestre e inovador da cozinha experimental da Bahia.
Com a preciosa ajuda da Via Press e com algumas nuances as coisas iam acontecendo... 
A nossa comunicabilidade existia com alguma freqüência e sempre havia alguma novidade diferenciada, como levar um artista da Globo a jantar no restaurante ou algum cantor de relevância nacional, que visitava Salvador.
Elaine Hazim queria falar comigo, surgiu uma boa nova; que boa nova seria! A produção do programa da Globo de - Ana Maria Braga – ia entrevistar Beto e fazer uma reportagem de como nasceu a sua culinária.
O primeiro objetivo estava atingido, preparávamos de acordo com o que tínhamos planeado a segunda investida na divulgação da imagem do Chef.
Não tivemos infelizmente tempo suficiente para fazê-lo.

Carla tinha em mente desenvolver um projeto pessoal, ligado á criação de uma grife de colares e pulseiras. Alguma coisa que a estimulasse, para além de ser proprietária de um Restaurante.
- Gostaria de fazer algo de diferente! Estive a conversar com as meninas e pensamos em criar uma linha de acessórios; o que achas?
- Se for do teu interesse acho bem, respondi.
- Queria ter outra ocupação para além do Restaurante e até aproveitar a movimentação do mesmo para desenvolver as minhas idéias.
Devido ao seu bom gosto com a moda e tudo o que dissesse respeito á mesma, Carla desenvolveu um projeto interessantíssimo de criação de acessórios para mulheres, que vinham exclusivamente da sua imaginação.
Foi para São Paulo durante um período de tempo, adquirir os materiais necessários á confecção dos seus colares e pulseiras.
Voltou entusiasmada com a idéia de lançamento da sua grife...
Passava dias, com as suas ajudantes, montando as pecas das suas arrojadas criações.
Colares e pulseiras compostos de pedras de várias tonalidades e tamanhos, esteticamente bem organizados e agrupados, faziam aos poucos a coleção a ser apresentada no espaço do Restaurante.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Vigésima Terceira Dose de Pílulas do Livro...

A resposta á minha idéia veio positiva, mas com uma pequena ressalva, só tinham verba para três outdoors.
Aceitamos a negociação far-se-ia um lançamento através de um Coktail no Paraíso com a imprensa e convidados em data oportuna.
Borba concordou e a minha agencia começou a tratar de todos os pormenores técnicos com os interessados.
Poucos dias passados, recebo um telefonema do responsável regional, alterando um pouco o que tinha sido acordado.

A verba tinha diminuído e só era possível ser criado um outdoor ao vivo.

Achei estranho aquela súbita mudança, comuniquei a Borba o sucedido, também não entendeu, mas mesmo assim como já tinha dado a sua palavra para o trabalho, concordou em continuar.
Segunda Feira pela manhã cedo, lá estava o andaime e a tela prontos para as pinceladas rápidas e instintivas de Bel Borba.

A tela ficava perto do Itaigara, num cruzamento de muito trânsito e era vê-lo em cima do andaime, dando forma sucessiva ao outdoor gigante pintado ao vivo e que tinha o nome de “Os Pecados Tropicais”.

As pessoas paravam nos seus carros, de dentro dos ônibus os passageiros diziam frases, algumas imperceptíveis, por vezes ouvia-se de lá do fundo da rua um grito: grande Bel Borba... Outros abriam os vidros das suas viaturas, e perguntavam o que era aquilo ali!

O impacto estava criado, a obra do artista em tela gigante, ficaria pelo menos quinze dias de exposição ao ar livre, para todos terem acesso.
Ia com Carla de carro quando olho para o meu lado direito, fiquei estupefato... Não acreditava, não era possível.
Existiam outros outdoors, não pintados ao vivo, com uma loja de roupa, que era igualmente cliente da agencia de publicidade que eu tinha chamado para o projeto. Tinha descoberto o porquê da mudança súbita e da falta de verba.   
A agencia tinha desviado o foco para outros clientes, que eram dela.
Aprendi mais uma lição... Fiquei em silêncio. Carla entendeu, não seria preciso explicar nada, tudo estava á vista e no lado direito da rua.

Em Abril fazíamos um ano de abertura do Rio Vermelho, estávamos a preparar uma confraternização.

Começaram a surgir alguns rumores que me deixaram apreensivo, talvez mal entendidos, ou então boatos que se transformavam em assuntos mais delicados.
Desde o inicio de todo o projeto, soube de pessoas chamadas de amigas do mestre, que faziam de tudo para deturpar o nosso relacionamento.
Nunca me indispus contra ninguém, nem mesmo ouvindo falar de coisas absurdas. Quase sempre apareciam noticias contraditórias de um lado e do outro. Que estranho parecia aquilo tudo.
Os taxistas traziam muitos clientes vindos dos hotéis, mas também muita noticia e algumas informações...

Respeitei e respeitarei sempre o homem, o profissional e o criador Beto.
Sempre que surgia alguma informação menos esclarecida, tanto eu como ele, arregaçávamos as mangas e tentávamos esclarecer... Era ótimo.
As informações cruzadas originavam a maioria das vezes um mal estar de ambas as partes...
Nunca tivemos nenhum desentendimento durante todo o processo profissional e pessoal. Conversávamos ás vezes acaloradamente, mas sempre dentro do respeito mútuo. Acho que o mestre sempre me respeitou da mesma forma que eu o respeitei.
O nosso dialogo sempre funcionou ao mesmo nível e á mesma distância.
Os problemas financeiros faziam alguma mossa séria no nosso relacionamento pessoal e profissional.
Chegado o inverno o movimento decaiu substancialmente tanto no Rio Vermelho, como no Cabula, estávamos todos nervosos, despesas para pagar e as receitas baixíssimas. Com o Rio vermelho aberto e ainda por cima inverno, o faturamento do Cabula derrapou. Ninguém ia para longe, muito menos chovendo. A beleza do Cabula acontecia durante o dia e com sol; para se observar a natureza, as arvores e os frutos.

Pode-se gostar muito da gastronomia, mas existem condicionalismos que limitam o deslocamento das pessoas.

As medidas teriam de ser enérgicas, decidimos limitar o quadro de pessoal, reduzir algumas pessoas e despesas e fazer um novo investimento, pois a área do pergolado era imprescindível para o bom funcionamento do Rio Vermelho.

A chuva não dava tréguas nos meses de Junho e Julho, seria necessário colocar-se um toldo que cobrisse toda a área do pergolado e onde os clientes, pudessem ficar.

Apesar dos orçamentos serem bastante caros, optamos por um toldo que abrisses e fechasse manualmente.
Colocamos o toldo, mas viemos a descobrir que não seria de maneira alguma a solução ideal, porque quando chovia fortemente, a área externa ficava totalmente alagada. Talvez no projeto inicial do restaurante, na reforma, devesses ter sido contemplado uma área externa totalmente fechada por vidros transparentes e portas e que pudesse ser aberta unicamente em alturas que não chovesse.
Estávamos há um ano abertos e aos poucos descobríamos que os clientes é que nos dão o sentido das falhas.
Perdemos imensa clientela, pela questão referenciada.


terça-feira, 9 de novembro de 2010

Vigésima Segunda Dose de Pílulas do Livro...

O vício do mestre o cigarro conduziram a duas realidades, distintas, mas provocadas ambas pelo fumo.

Beto infelizmente sofreu um infarto em cinco de março desse ano e teve internado algumas semanas...
Deixei de fumar nesse mesmo dia, assim que vi que, mais tarde ou mais cedo poderia acontecer comigo...

Quando tiramos algumas ilações de coisas negativas e as transformamos em exemplos benéficos para nós, estamos a ser no mínimo inteligentes.

O mestre transformava tudo em brincadeira, mesmo as situações complexas se tornavam hilariantes.
Fez um cateterismo e colocou duas argolas nas artérias, a sua alimentação muito natural e o fato de não parar um minuto o ajudaram a ultrapassar este pequeno contratempo, segundo informação médica.
De médicos não gostava nem de ouvir falar, tem algumas mazelas que o incomodavam, mas ninguém consegue levá-lo a uma consulta médica. Um dia nem eu sei como, fui buscá-lo pela manhã ao Cabula e acedeu a ir a uma consulta com um Angioplasta... Milagre.

Naturalista por excelência leva a vida, como a vida o levasse...

Dias após o infarto, começou a querer fumar dentro do hospital, reclamava da comida que não tinha sabor, (era verdade, mas o estado de saúde exigia cuidados) conseguiu ninguém sabe comprar um cigarro por um preço exorbitante e fumá-lo, como se fosse pela primeira vez.
Carla não gostou quando soube da história, eu sorria, porque sabia que aquele homem vivia sempre no seu próprio limite, desafiando alguns paradigmas e conceitos pré-estabelecidos.

Se não fosse um desafiador com uma imaginação fértil e com um conhecimento agregado ao longo dos anos, nunca teria conseguido criar essa maravilhosa culinária experimental baiana.
Voltou a fumar passados algumas semanas, eu parei para sempre, pelo menos até hoje.

Alguns  amigos se juntavam ao final da tarde, para tomar um vinho e fumar um charuto perto da árvore bendita.
Reinava por vezes uma paz uma tranqüilidade naqueles finais de tarde sem chuva e com uma pequena brisa, que refrescava quem ali ficava.
Bel, Dudu, Tom, Rui, por vezes Ivan, quando estava em Salvador, Bruno, Licia, apareciam sempre que o trabalho permitia, para relaxar e jogar conversa fora, ou tratar de assuntos mais sérios.
O espaço mais parecia um SPA que convidava ao relaxamento.
Quem me quisesse encontrar, sabia que quase todos os dias eu me sentava por alguns minutos, naquele preciso lugar, olhando para o nada ou simplesmente pensando em coisa nenhuma.
Ter um restaurante já é bastante cansativo e trabalhoso, mas um Paraíso que movimentava tanta coisa, ainda se tornava mais difícil, então aqueles momentos eram sagrados.

As empresas procuravam-nos com propostas de parcerias, nem sempre vantajosas, para o nosso negócio.

Tínhamos participado da Casa Cor, com um espaço especialmente criado para nós junto ao mar, nos armazéns da Codeba, deu-nos alguma visibilidade e muito trabalho de logística, entramos em alguns eventos e não eram poucos, como parceiros, (sem usufruir de verba alguma) divulgando alguma culinária nossa, ou os nossos famosos sucos ou as nossas famosas Roskas, propunham-nos permutas que não eram do nosso interesse, todos os santos dias aparecia alguma coisa.
Bons negócios são raros, mas existem.

O Hipercard tinha um cartão super popular com pouca penetração nas classes mais favorecidas, o seu departamento de Marketing fez um estudo de mercado e chegou á conclusão que haveria necessidade de agregar algumas marcas de qualidade, como o Paraíso Tropical ao seu nome.
Para o efeito nos contatou, tentando sentir quais seriam as nossas necessidades prementes.
Foquei que no meu ponto de vista, brindes dentro do nosso espaço não agregariam nada de novo, pois levaria o cliente a pensar que era mais uma ação de divulgação como outras anteriormente feitas pela marca.
Perguntaram o que eu sugeria de novo.

Na realidade, se a marca quer adicionar novos elementos que valorizem e que em médio prazo o consumidor olhe para o cartão sem relutância de tê-lo, temos de valorizar a imagem do cartão de crédito.

Sugeri na mesa de reunião com o responsável e diretor regional, que se criassem sete outdoors espalhados pela cidade, onde o artista visual Bel Borba, pintasse ao vivo durante alguns dias intercalados, para criar um impacto na população de Salvador e na mídia.
Para o feito seriam colocadas estruturas em locais chaves, com uma tela em branco, a anunciar que Bel Borba estaria presente no dia tal.
A idéia foi prontamente aceite, pelos responsáveis do cartão Hipercard, só me pediram uns dias para terem o projeto aprovado pela administração em São Paulo.

Vim a conhecer depois, o Administrador e Presidente do Cartão, Ivo Vieitas, com quem tive uma ótima relação pessoal, tornou-se nosso cliente assíduo e mais que pareça estranho, vinha de São Paulo, propositadamente, só para comer o nosso famoso “Arroz de Polvo”.
Marcamos uma próxima reunião, já com a presença de Borba e com a minha agencia de publicidade que tinha criado a logomarca, que chamei para fazerem parte do projeto e ganharem também alguma notoriedade e verba.